Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
O Incal
Crítica por: Carlos Elias
Obra prima dos quadrinhos, “O Incal” é uma viagem fascinante a um universo complexo e ricamente detalhado em cultura e politica que só existe na cabeça do genial Alejandro Jodorowsky, e que felizmente podemos vislumbrar, graças aos desenhos grandiosos do fantástico Moebius.
Pode perecer exagerada a forma como apresentei essa obra em quadrinhos, mas não há outra forma de apresentação. “O Incal” é com certeza um trabalho literário de grande valor, ilustrado de forma primorosa.
Jodorowsky nos apresenta um universo futurístico, distópico e fantástico, com uma premissa bem clichê, que é a narrativa dos filmes noir. Tendo como personagem principal o detetive particular classe R (classe mais baixa entre os detetives) John Difool, que se vê envolvido sem querer em uma trama intergaláctica, após receber das mãos de um alienígena à beira da morte, uma pedra misteriosa e muito poderosa de nome Incal Branco. Essa pedra é cobiçada por governos intergalácticos, rebeldes, mercenários, um grupo religioso e poderoso liderado pelo Técno-Papa, que tem como centro do seu poder, O Incal Negro. Difool e seu animal de estimação, uma espécie de pterodátilo de concreto, falastrão, que em determinado momento engole o Incal acidentalmente; são perseguidos por esses grupos, o detetive termina tendo a ajuda de alguns personagens que ele encontra ao longo de suas aventuras pela galáxia. Um desses personagens é o Meta-Barão, um dos personagens mais geniais dessa historia que terminou tendo sua própria saga contada em uma outra obra do Jodoroswsky,que é “A Casta dos Meta-Barões”. Há também Kill, um mercenário com cabeção de cachorro, Solune, um andrógeno messiânico que é protegido pelo Meta-Barão, e ainda as irmãs Animah e Tanatah, poderosas guerreiras de gênio muito diferente.
À medida que Difool convive com essas pessoas, ele muda o seu comportamento, que a principio era covarde, egoísta e preguiçoso, o que muitas vezes dá um tom cômico à narrativa. O crescimento do personagem é equivalente ao engrandecimento dos eventos que vão ocorrendo ao seu redor, a saga vai ficando cada vez mais grandiosa, e tem seu ápice em um evento cósmico de proporções divinas.
A mistura de ficção cientifica e magia é explorada com maestria por Jodorowsky e Moebios em “O Incal”. O interessante e que essa mistura foi incentivada por um trabalho que terminou dando errado. Os dois se conheceram no final dos anos 70, na produção de uma adaptação do livro “Duna” para o cinema. Jodorowsky, que além de roteirista também é cineasta, havia sido contratado para dirigir o filme, e Moebios para criar os conceitos gráficos, porém esse projeto nunca saiu do papel, mas rendeu aos dois, boas ideias que terminam dando vida a “O Incal”. Inicialmente “As Aventuras de John Difool” foram publicadas na revista Metal Hurlant e só no inicio dos anos 90 elas foram reeditadas em 6 álbuns, recebendo o nome de “O Incal”.
Alejandro Jodorowsky expandiu a mitologia criada no “O Incal” com mais 6 obras: "Antes do Incal”, “A Casta dos Meta-Barões” (já citado), “Os Técno-Padres”, “Megalex”, "Depois do Incal” e “Incal Final”. Nessas obras, Jodorowsky não trabalhou com Moebios, mas escolheu a dedo, os artista com quem dariam vida aos seus personagens.
Para os fãs de quadrinho de ficção cientifica, “O Incal” é uma leitura obrigatória, sendo considerada por alguns, o melhor trabalho de Moebios. Na minha opinião, é uma das melhores coisas que já tive prazer de ler, uma narrativa simples, com uma mitologia rica em tramas e personagens, aventura divertida e cativante que espero que todos que gostam do gênero tenham a oportunidade de ler.