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Autocaricatura de Angeli

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Capa da Antologia Chiclete com Banana Nº01

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O encontro de Rhalah Rikota e Mr. Natural, uma homenagem de Angeli ao ídolo R.Crumb

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Angeli em crise

Resenha por: Carlos Elias                                                   14/02/2021

O Ex-punk da Periferia

Em meado dos anos noventa, eu estava totalmente apaixonado pelos quadrinhos underground das décadas de 70, 80 e 90, e uma revista chamada “Animal” era a minha principal referência. Com características de fanzine, essa revista trazia trabalhos de renomados artistas europeus, estadunidenses e alguns brasileiros. Também faziam parte da minha leitura, alguns álbuns de R. Crumb, o rei do underground.

 

E foi seguindo esse estilo de quadrinhos que me deparei com “Chiclete com Banana”. Revista publicada pela Editora Circo, com características bem parecidas com a “Animal”, porém com uma pegada bem mais cartunesca, influência clara de seu criador, editor e principal colaborador, Angeli. A revista ainda contava com participação de Laerte, Glauco, Luiz Gê e muitos outros.  

 

Angeli já era um cartunista famoso nos meados da década de oitenta, fazendo charges e tirinhas para o Jornal “A folha de São Paulo”, e tendo trabalhos publicados anteriormente no “Pasquim” e outros jornas de fama nacional, porém foi com “Chiclete com Banana” que ele pôde mostrar toda sua criatividade em criar personagens com uma personalidade marcante. Suas criações estão sempre inseridas no contexto urbano, e seus movimentos culturais, como o Hippie, o Punk, o New Wave, que tão bem representaram as décadas de 70 e 80.

 

Com um humor bastante anárquico, Angeli critica socialistas e capitalistas, machistas e feministas, religiosos e ateus. Seus personagens são feitos para incomodar, como ele mesmo diz em uma entrevista, “não gostaria de sentar para conversar com nenhum deles”.  Os personagens “Meia Oito” e “Nanico” são um bom exemplo disso, homossexuais enrustidos, se dizem guerrilheiros de esquerda, mas suas ações não passam de conversa fiada na mesa de um bar. “Rigapov”, personificação da guerra fria, esse personagem é um mistura de Ronald Reagan com Gorbachov sempre ameaçando apertar o botão do fim do mundo, mas nunca o fazendo de fato.

 

Angeli anarquizou até seu próprio trabalho, quando no auge da fama resolveu torturar e matar sua personagem mais conhecida, a alcoólatra e depravada “Rê Bordosa”. Ele mesmo declarou que foi um momento muito difícil, mas de certa forma foi também libertador.

 

“Bop Cuspe” é a personificação da anarquia de Angeli, o personagem é um punk de pele esverdeada, que mora nos esgotos  da cidade e literalmente cospe na cara da sociedade medíocre e piegas. E ainda temos muitos outros, como ”Os Skrotinhos”, “Mara Tara”, os hippies velhos “Wood & Stock”, “Ranpal o paranormal”, dentre muitos outros.

 

Mas o personagem que me chama bastante atenção é “Rhalah Rikota”, um guru espiritual que só se interessa por transar com as discípulas e extorquir seus seguidores. Esse personagem lembra muito “Mr. Natural”, criação do já citado cartunista estadunidense R. Crumb. Como grande fã, Angeli não nega a forte influência que teve de Crumb em seu trabalho, mas o interessante é que muito da vida pessoal dos dois se assemelham, a forte influência dos movimentos culturais na forma de ver a sociedade, a intensa ligação com a música, o vício de desenhar mesmo quando não estão trabalhando, o gosto por desenhar pessoas comuns inseridas no seu cotidiano, fazem com que Angeli e Crumb sejam quase almas gêmeas.

 

Com traços bem característicos, sombreados hachurados, linhas agressivas, como todo grande artista, Angeli diz ter seu trabalho sempre em constante transformação, e nos últimos tempos, por influência e solidariedade ao amigo Laerte que resolveu dar uma mudada radical em sua vida e seu trabalho, (leia mais aqui) Angeli tem abandonado os personagens, e focado mais no seu trabalho com charges politicas e desenhos aleatórios, testando e aperfeiçoando novos estilos, mudança que ele diz ser parte do que se tornou, após uma crise de meia idade, o que lhe rendeu a série de tirinha “Angeli em crise”.

 

Em 2006, Angeli lançou o longa de animação “Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll”, já em 2008, lançou o curta metragem “Dossiê Rê Bordosa,” documentário em animação stop motion.

 

Passando do Punk ao Jazz, das criticas sociais à contemplação interior, o trabalho de Angeli ,“o ex-punk da periferia” como ele mesmo se intitula é mais uma incrível oportunidade de conhecermos a nossa sociedade e cultura, através dos olhos críticos, sarcásticos e bem humorados de um dos maiores artistas da atualidade. 

 

Referências:

 

Angeli - https://pt.wikipedia.org/wiki/Angeli

Documentário Angeli 24 Horas - https://www.youtube.com/watch?v=Wm62uP2rPfg

Angeli07

Cartaz do filme Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll

Angeli08

Cena do curta metragem Dossiê Rê Bordosa

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