Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Resenha por: Rodrigo de Oliveira Ferraz 23/12/2020
HQ Ensina a Ler?
Você se lembra da sua primeira lição de casa? Do primeiro texto que sua professora pediu para você ler? Provavelmente não. Agora busque um pouquinho mais em sua memória a sua primeira leitura “solo”, sem que ninguém te induzisse, aquela que simplesmente te convidou através da capa.
Lembro-me como hoje do meu pai através de sua pedagogia própria prendendo-me em meu quarto todos os dias durante uma hora com um livro escolar qualquer. Parecia estar dando certo na perspectiva dele, mas uma criança sempre arranja seu jeito de “burlar o sistema”, e comigo não foi diferente. Após dias chateando-me com a sobrecarga de conteúdos que eu não fazia ideia do por que tentar ler aquilo, me deparei com uma pilha de livros e revistas velhas em uma gaveta. Nas revistas não encontrei muitas opções, nos livros nada me interessava se não houvesse imagens, mas algo me despertou muito a atenção, alguns gibis (histórias em quadrinhos) da Turma da Mônica, outros da Disney e um TEX. Inicialmente comecei com as clássicas Turma da Mônica, pois era o que eu já me familiarizava pelos próprios livros escolas e depois vieram os da Disney, onde também já existia uma relação com os desenhos da TV. Eu colocava diariamente uma revista dentro do livro designado pelo meu pai e toda vez que ele fazia a ronda pra saber se sua tática estava funcionando, eu mudava rapidamente de página e voltava aos conteúdos “curriculares” . Por meses mantive este ritual, até experimentar ler o TEX. Era a primeira história que o final não estava presente. “Como assim tenho que comprar o número seguinte?” . Aquele dia nascia um colecionador de quadrinhos...Mas e sobre a leitura? Bom, lembra-se dos ditados de palavras? Lembra-se do “Fulano começa lendo e ciclano continua”?, eu passei a ser fulano e ciclano, e gostava daquilo. Os pequenos textos de meia lauda viraram brincadeira tanto na decodificação das palavras quanto interpretação do contexto. Lógico que nunca menosprezarei os ensinamentos dos meus professores alfabetizadores, mas estava claro e evidente que negar as histórias em quadrinhos com base em uma tendência tradicional de ensino causara um retardamento no processo de ensino das crianças em estágio de alfabetização.
Em 2018 e 2019 tenho a oportunidade de levar minha coleção de quadrinhos a uma escola pública. Os alunos ficam fascinados, a pequena coleção com um pouco mais de mil quadrinhos ofuscou a imensa sala de leitura com suas exuberantes coleções e clássicos da literatura. Sem dúvidas, uma experiência incrível e um sentimento de reciprocidade e satisfação. Ainda em 2019 apresento meu trabalho de conclusão de curso com o tema “A Literatura Infantil como ferramenta para alfabetização das crianças” tendo as histórias em quadrinhos como um dos gêneros responsáveis por essa defesa e finalmente em 2020 recebe o diploma de Pedagogo. Atualmente minha filha tem 5 anos de idade, iniciou o ano estudando no infantil I com dificuldades na decodificação das palavras, principalmente em sílabas complexas como seria natural para qualquer criança desta idade, mas devido a pandemia do Covid-19 teve as aulas interrompidas e meus caros amigos, vi uma oportunidade perfeita para aplicar a Pedagogia de meu pai com um toque especial e “PASMEM” , 50 quadrinhos da Turma da Mônica foi a minha contribuição para que ela desenvolvesse o seu processo de decodificação das palavras com uma dicção quase perfeita.
Hoje reorganizo todo o material que adquiri e busco um sistema lógico de leituras para crianças nessa fase do aprendizado. Desafios? Vários, e aqui vão apenas dois deles: Inacessibilidade relacionada a questão financeira, pois quadrinhos deixou de ser o “troco do pão” , impossibilitando que toda criança tenha condições adquiri-los e falta de incentivo dentro e fora dos portões das escolas, já que quadrinhos ainda são descriminados e não reconhecidos como gênero literário dentro dos currículos de ensino.
E você? Contribui para o surgimento de novos leitores? Que experiência vive para alimentar a cultura dos “loucos por quadrinhos”?