Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Dias Frios
Review por: Jorge Jr.
Batman #27 jun 2019 e #28 jul 2019, originalmente publicada em: Batman #51 set 2018, #52 out 2018 e Batman #53 out 2018.
Bruce Wayne foi escolhido para ser jurado no tribunal que por coincidência vai julgar um caso de assassinato envolvendo o Sr. Frio que foi preso e obrigado a confessar pelo Batman (sob um pouco mais de “persuasão” do que o de costume), o promotor apresenta as provas, o defensor tenta desqualifica-las e os jurados se retiram para a sala do júri para darem seus votos, parece que não há dúvidas entre os jurados, se trata do herói da cidade acusando um criminoso conhecido. O resultado do veredito deve ser unânime para ser eficaz, mas quando Bruce é o único que vota contra a culpa do Frio começamos a duvidas das coincidências.
Bruce Wayne não discorda dos fatos, mas gostaria de coloca-los em contexto e solicita um tempo aos outros jurados para discutir sobre os fatos e se ninguém mudar o voto, ele mudaria o seu, foi esse diálogo que me lembrou do filme “12 Homens e uma Sentença” de Sidney Lumet de 1957, voltei a reler o quadrinho para ver se pescava alguma outra referência. Na página dupla que apresenta o título e os créditos da história, uma jurada reclama do frio e outra parece cruzar os braços para se aquecer, no filme os jurados reclamam frequentemente do calor, o ângulo e plano de enquadramento são os mesmos de uma foto para publicidade do filme. Como no filme, Bruce Wayne vai criar uma dúvida razoável sobre como os jurados interpretam os fatos, mas resta desconstruir o argumento do apelo à autoridade, para essas dúvidas serem criadas, Bruce deveria demonstrar que o Batman é falho. Ninguém é perfeito nem mesmo o Batman afinal errar é humano, mas será que é assim que pensam os gothamitas? Bruce Wayne explica como eles veem o Batman como uma entidade sagrada e todos confessam que só estão vivos por causa dele, o Batman sempre os livra de todo o mal e decide sobre a vida e a morte das pessoas, é fácil pensar que o Batman é perfeito, infalível, que ele é como Deus. Mas logicamente não é tão difícil diferenciar os dois: “-Deus abençoa sua alma com graça. Batman soca pessoas na cara”, ele é apenas um homem num traje de morcego de couro e como todo homem é passível de erro.
Mais um arco excelente de Tom King, os diálogos inteligentes e as referências do filme foram algo genial, mas sinceramente eu acho que nessa história Bruce Wayne foi um hipócrita egoísta. Ele se deu ao trabalho de subornar alguém do tribunal para ser escolhido como jurado, obrigou o Dick Grayson a substitui-lo como Bataman durante os dias que ficou confinado em um hotel para o julgamento e elaborou toda uma narrativa para desconstruir as provas de acusação para em fim convencer os jurados de uma dúvida razoável ao invés de como Batman, assumir ao comissário Gordon que ele errou. Ele conseguiu convencer onze pessoas comuns o quanto o Batman é falho, mas deixou Gordon achando que mais uma vez o sistema judiciário falhou, manchou a reputação de um médico legista renomado e até Alfred pensou que ele se infiltrou como jurado para se certificar da condenação do Frio e para toda Gothan além dos onze jurados, Batman continua sendo um Deus vestindo capa. Faltam adjetivos para elogiar a arte maravilhosa de Lee Week, em vários momentos me fez lembrar Mazzucchelli em “Ano Um”