Hoje em dia, apesar da crise, o mercado editorial brasileiro está testemunhando a criação de inúmeras editoras e, devido a isso, o lançamento de HQs tem sido numeroso e  diversificado. Parece até contraditório, em meio a uma pandemia, numa crise sem precedentes, nunca se viu tantos títulos distintos em nosso país. Não estou aqui para discutir esse fenômeno mas para, em parte, aproveitar para poder desfrutar da leitura de algumas HQs que nunca antes teria oportunidade de ler em língua portuguesa. Até quando vai esse boom, não sei. Mas vamos aproveitar disso. 

 

Nesse sentido, consegui ler uma graphic novel alemã “Aprendendo a Cair” do artista Mikael Ross. Se não me falhe a memória, essa é minha primeira hq alemã e fazendo juz ao clichê: a primeira vez a gente nunca esquece... principalmente, se houver talento envolvido. Coube a editora Nemo trazer ao Brasil essa premiada HQ (vencedora do maior prêmio de quadrinhos da Alemanha em 2018, o “Mas und Moritz”).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Aprendendo a Cair” pode ser caracterizada como uma história de quadrinho inclusiva já que conta a história de Noel, um jovem com deficiência intelectual, morador de Berlim, criado por sua mãe que, inesperadamente, ver sua vida transformar após a morte de sua mãe. Noel é então conduzido para uma cidade no interior da Alemanha (Neuerkerode) famosa por ser uma comunidade que é composta por cidadãos que sofrem algum tipo de transtorno.

 

Nesse ponto, vale a pena destacar como surgiu a ideia de criar tal quadrinho. O artista Mikael Ross foi convidado pela Fundação Evangélica Neuerkerode para homenagear o aniversário de 150 anos da cidade. Após conviver um período na cidade e observar os hábitos dos moradores, Ross passou quase 2 anos para finalizar uma HQ que pudesse captar a essência e a importância do trabalho feito nessa cidade.

 

Apesar de se basear numa comunidade real, o artista criou personagens fictícios verossímeis. A narrativa é conduzida sob a perspectiva de Noel, como dito anteriormente, um recém-órfão, intelectualmente deficiente que consegue superar a perda de sua mãe através do acolhimento e do amor de pessoas que não o condenam pela sua limitação, pelo contrário, uns estão na mesma situação e outros, além de não condenar, o ajudam e o acolhem. 

 

Vivemos num mundo cão que a cidade de Neuerkerode parece existir numa realidade paralela ou em outro planeta, afinal, o mundo anda cheio de “cancelamentos” e intolerância que quando nos é apresentada uma realidade como essa ficamos boquiabertos, ansiosos por mais comunidades como essa. Esperando que a exceção seja a regra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No final de contas, Aprendendo a Cair é excelente porque Mikael Ross não faz uma HQ visando somente propagar o trabalho humanitário de uma cidade, ele vai além, ele mostra um garoto como tantos outros, nesse caso, um fã do AC/DC, com deficiência intelectual que estava acostumado com sua rotina sossegada que precisa se adaptar rapidamente aos reveses da vida. E para isso conta com a ajuda de amigos depressivos, bipolares, esquizofrênicos etc. Na HQ são apresentadas situações, às vezes, divertidas, outras, emocionantes porque relata, sobretudo, uma história demasiadamente humana na sua essência.

 

Leitura Imperdível!