Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Resenha por: Carlos Elias 18/06/2021
Animal
No inicio dos anos 90, minha busca por quadrinhos alternativos levou-me à revista “Animal”. Garimpando as coleções do meu tio, encontrei essa revista que mudou a concepção de quadrinho de um garoto entre os 12 e os 14 anos. O interessante é que já havia acontecido algo semelhante em relação aos desenhos animados, quando assisti a animação Akira... Um soco no estômago! Mas isso não foi de forma alguma ruim, foi como viajar para uma nova dimensão, sair da infância e ingressar no mundo dos adultos.
Com o subtítulo de “Feio, Forte e Formal”, a revista que era uma publicação nacional, lançada pela editora VHD Diffusion e idealizada pelo editor Rogério de Campos que trazia para o Brasil do final da década de 80, um conceito de quadrinho para um publico adulto que já era sucesso na Europa.
Seguindo os moldes da Revista francesa “Métal Hurlant” e a versão norte-americana “Heavy Metal”, a “Animal” contava com estórias curtas e outras vezes com séries que continuariam em outros números. Sexo, violência, ficção-cientifica, terror, humor, drama, suspense, não havia limites nem tabus para o que era publicado, e “Animal” ainda dava um salto à frente com o seu encarte “Mau”, um fanzine em papel jornal inserido no meio da revista, que abordava os mais diversos temas, de politica a suicídio.
As publicações contavam com quadrinistas europeus, norte-americanos e brasileiros. Os italianos Tamburini e Liberatore (de RanXerox), Massimo Mattioli (Squeak The Mouse), os espanhóis Jaime Martín (Sangue de Bairro) e Max (Peter Pank) eram uns dos muitos representantes dos quadrinhos europeus a serem publicados na revista. Já entre os brasileiros havia nomes como, Osvaldo Pavanelli, André Toral, Fábio Zimbres, Marcelo Bicalho, Jaca, Lourenço Mutarelli e Newton Foot, muitos deles tendo seus trabalhos publicados pela primeira vez.
Embora RanXerox tenha sido o Personagem escolhido pela editora como “garoto propaganda”, foi “Sangue de Bairro”, uma historia publicada em uma das edições especiais chamadas “Grandes Aventuras Animal “, com que mais me identifiquei. A história do quadrinista espanhol Jaime Martín acompanhava o dia a dia de um garoto de classe média baixa na periferia de Barcelona, suas descobertas sexuais, a experiência com as drogas, suas amizades e o convívio constante com a violência.
Outros personagens que eu gostava bastante eram “Burton & Cyb”, uma dupla de vigaristas interplanetários que viajavam pelo espaço aplicando os mais mirabolantes golpes em suas vitimas inocentes, (às vezes nem tão inocentes assim).
No meado dos anos 90, embora a revista já tivesse sido cancelada, entre meu seleto grupo de amigos, ela ainda era o maior sucesso. Lembro-me de perdermos horas relembrando ou folheando as revistas, a fim de descobrirmos novos detalhes que não houvéssemos percebido, ou apenas esquecido. O sucesso da revista “Animal” entre minha turma era tão grande, que um amigo mandou estampar em uma camisa, a página de uma das histórias do quadrinista brasileiro Eli Mangolini. Se não me engano o nome da história era “Lobo Ernesto”, uma paródia pervertida e escatológica da história de “Chapeuzinho Vermelho”.
Infelizmente, “Animal” teve uma vida curta, sendo sua primeira publicação em 1988 e a ultima em 1991, tendo assim apenas 22 edições e mais 8 das edições especiais, “Grades Aventuras Animal “.
Alguns críticos acreditam que “Animal” estava à frente do seu tempo, e essa foi a sua ruina. Já eu acredito que animal representava um sonho de liberdade de expressão que talvez nunca mais tenha espaço para ser sonhado, visto que, ultimamente temos regredido em relação a essas liberdades até mesmo na arte, e hoje temos uma visão mais atrasada do que nas décadas de 80 e 90.
ANIMAL: FEIO, FORTE E FORMAL!
Referencias:
Feia, Forte e Formal: a história da Animal - https://universohq.com/materias/feia-forte-e-formal-historia-da-animal/
Animal - https://pt.wikipedia.org/wiki/Animal_(revista)
Animal: Feio, Forte e Formal - https://www.youtube.com/watch?v=Q9NSte-jOd0