Resenha por: Carlos Elias 28/12/2020
Alienígena Americano
(American Alien de Max Landis) Review por: Jorge Jr.
Max Landis é filho do cineasta John Landis (Um Lobisomem Americano em Londres, Irmãos Cara de Pau), Max já escreveu roteiros para filmes e séries (Poder sem Limites e Dirk Gently’s) e agora assina os roteiros de uma série de sete edições para a DC sobre Clark Kent, apesar do nome na capa, podemos ler na contra capa que “essa não é uma história do Superman”. Cada um dos capítulos mostra uma fase da vida do jovem Clark no caminho para se tornar o homem antes do super. O interessante da escolha de Landis para o roteiro é que ele chamou a atenção da DC por dois vídeos postados no Youtube em 2012 e 2013 sobre “A Morte do Super-Homem” (é como a Abril chamava o Superman) e sobre o filme “O Homem de Aço”, em suas críticas ele revelava uma percepção interessante sobre uma característica fundamental da personalidade de Clark, algo que torna ele único, sua motivação para se tornar um super-herói é diferente de todos os outros, ele não é um egoísta pós-traumático que teve que testemunhar a morte dos pais para aprender que é importante ajudar as pessoas, seu tio Bem não teve que ser assassinado por causa de sua negligencia, ele não foi largado numa ilha deserta, ninguém colocou um anel em seu dedo, ele não foi criado por amazonas, ele é só um cara do Kansas com os melhores superpoderes, e contrariando a máxima de Lord Acton, o poder absoluto não corrompeu absolutamente, o poder absoluto eximiu o Superman de todo medo, ganância, ódio e todas as fraquezas consequentes da insegurança humana. Ele se tornou um super-herói porque tendo esses poderes é o que fazia mais sentido, era o certo a se fazer, mesmo tendo o poder de dominar o mundo, ele escolheu ir para a faculdade e depois arranjar um emprego, ele não fez isso tudo para se disfarçar de Clark kent, ele fez porque foi o que seus pais lhe ensinaram, Superman é apenas o Clark numa fantasia.
#1. Pombo. Landis procura dar ênfase na caracterização dos personagens invés de se preocupar com o enredo das histórias. A primeira história mostra um garoto descobrindo o mundo, mas diferente dos outros garotos, descobrindo também que tem superpoderes, o medo dele e dos pais e a excitação do menino que acabara de aprender a voar, se você já viu um garoto ganhando uma bicicleta deve saber do que estou falando (hoje seria com um Playstation 4 ou 5, já não sei em que número eles estão), a arte de Nick Dragotta combina perfeitamente com o tom leve e juvenil da história.
#2. Falcão. Na segunda história temos uma arte bem mais suja e realista de Tommy Lee Edwards e Landis cria situações que seriam comuns e sem interesse se não houvesse a presença do jovem adolescente Clark Kent, nada mais natural que alguns garotos tomando cerveja escondidos e comentando sobre usar visão de raio-x para ver por debaixo das roupas das garotas, acontece que um deles pode, Landis não se preocupa em mostrar que algumas pessoas sabem dos poderes de Clark e quando acontece uma série de assassinatos o próprio xerife vem pedir ajuda. Max Landis disse que quanto mais poderoso Superman aparece numa história, menos interessante ele se torna, em sua primeira ação como herói, Clark ainda pode ser ferido e isso faz toda a diferença na humanização do personagem, a preocupação e o orgulho dos pais também não poderiam faltar em sua formação.
#3. Papagaio. Na terceira história Clark entra de gaiato no iate de Bruce Wayne e é confundido com o milionário playboy, talvez seja uma piadinha de Landis com o fato de todos os desenhistas retratarem Batman e Superman com as mesmas fisionomias. Clark agora com dezenove anos, saindo de casa pela primeira vez, acaba tendo a sorte de saborear alguns dos prazeres da vida de um socialite. A linda arte dessa vez fica por conta da linda Joélle Jones.
#4. Coruja. No quarto capítulo Clark abandona o ninho e chega à Metrópolis. Agora com 22 anos ele começa a trabalhar no Planeta Diário e conhece parte do elenco principal de suas futuras histórias, todos muito bem caracterizados, Lois Lane com seu temperamento arrojado, Lex Luthor, o egomaníaco de costume, Oliver Queen com sua culpa hipócrita por ser rico, o jovem Dick Grayson e sua astúcia detetivesca e por fim o Batman, desenhados pelo sombrio Jae Lee.
#5. Águia. Todos se inspiram no Superman, mas todo mundo quer ser o Batman, inclusive o próprio Superman, Clark usa a capa do Batman no protótipo de uniforme que usa nas primeiras atuações, agora com os superpoderes que conhecemos. Cria-se a rivalidade entre ele e Luthor e no final ele assume ser um super-herói. Francis Manapul é responsável pela arte e pelas cores, de fato seria difícil diferenciar, ele usa cores para configurar luz e sombra, desnecessário elogiar o já consagrado e grande artista da nona arte.
# 6. Anjo. Amigos de infância de Smallville vêm visitar Clark na cidade grande, eles encontram outro personagem clássico e o melhor amigo do Clark Kent, não me perguntem como, mas agora o Jimmy Olsen é negro e gay, parece que ruivos héteros são uma minoria sem representação política no mainstream. Alguns choques culturais e uma discursão entre os amigos fazem Clark se lembrar de suas origens e de seus valores, ele finalmente entende a importância e a necessidade da existência de um Superman no mundo e assume o manto de forma definitiva. O Superman hipster é desenhado e colorido pelo talentoso Jonathan Case (Batman ‘66).
#7. Valquíria. Só agora na sétima e última história da série podemos ver Superman com o primeiro e mais famoso traje de super-herói dos quadrinhos, em sua última etapa para se tornar um superman completo ele precisa enfrentar um adversário a altura e ninguém melhor para antagonizar com o escoteiro bebedor de leite do que o maioral, o último czarniano desprovido de qualquer ética ou moral. Lobo obriga Clark a brigar de verdade pela primeira vez, afinal até agora bastava um peteleco para mandar um vilão para o espaço. A arte é de Jock, pseudônimo de Mark Simpson, excelente artista e capista que já passou pela Image, 2000AD, DC/Vertigo e outras.
Max Landis é o típico esquerdista caviar que cresceu em Beverly Hills entre as estrelas de Hollywood, mas diferente dos filhos do Spielberg, ele tinha talento e não parava de imaginar, criar e produzir, não é porque ele é filho de um cineasta que os estúdios já pagaram milhões de dólares pelos seus roteiros. Ele sempre militou por mais representatividade e diversidade nos quadrinhos e no cinema, nessa obra ele aborda temas como direitos dos animais, machismo, representatividade gay, consumismo, distribuição de renda, pacifismo e outras causas sociais, mas nunca de uma forma panfletária, sempre com equilíbrio e bem contextualizada no enredo. Mesmo fazendo parte do clubinho progressista ele foi alvo do arrastão do “Me Too” depois de ser acusado de abuso sexual e emocional por ex-namoradas, infelizmente tão cedo não deveremos ter novas obras de Landis nos quadrinhos.