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Review por: Pablo Cruz Vieira                                                                   27/07/2023

Guarda Lunar  (by Tom Gauld)

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Sempre admirei o poder de síntese. Escrever pouco e dizer tudo ao mesmo tempo. Fantástico! Eu mesmo tenho dificuldade com isso. Para dizer algo, dou voltas e voltas até chegar o cerne da questão, expressar de forma eficaz o que estou pensando. Não me refiro apenas ao texto escrito, vou além, o poder de síntese é admirável nos filmes, nas artes plásticas, em textos argumentativos etc. Toda essa introdução para dizer o óbvio: Tom Gauld, autor da HQ Guarda Lunar, é o rei da síntese, pelo menos, no campo das tirinhas e histórias em quadrinhos. Desde que li seu primeiro livro lançado no Brasil (Golias....ed.... ano...), me pergunto: como esse cara faz isso com um talento tão impressionante? Como um artista usa um traço tão simples, porém, peculiar e rico em detalhes? É um talento ímpar.

 

Em Guarda Lunar (publicado pela editora....), Gauld voltar a utilizar um traço simples para mostrar a rotina de um guarda que trabalha na lua patrulhando as áreas inóspitas deste satélite natural. Em nenhum momento, sabemos o nome desse patrulheiro. Um ser humano comum cujo emprego dos seus sonhos se transforma em algo burocrático, insosso e desnecessário. Patrulhar uma lua quase desabitada, preso numa rotina sem surpresas, numa função inútil... vítima de uma sociedade disfuncional.

Com poucos diálogos, a história nos é apresentada através de situações inusitadas e, em certos momentos, tragicômicas. Em determinado momento, o Guarda Lunar se sente depressivo e pede ajuda a seus comandantes na Terra. Em resposta, os superiores enviam um robô para compreender e ajudar a superar esse momento difícil no qual passa o subordinado. Além de ser uma tremenda contradição, enviarem uma máquina para tentar entender os sentimentos humanos e ajuda-lo a superar esse momento “humanamente” delicado, os superiores nem se deram o trabalhar de checar que o robô estava prestes a virar sucata na Terra. Como se não bastasse isso tudo, fica claro que o robô é incapaz de se deslocar na superfície lunar pois não foi fabricado com tal propósito. Outra situação para lá de estranha é quando o cachorro de uma moradora da lua foge. Ao procurá-lo, o Guarda Lunar se depara com um autômato do primeiro astronauta a pisar na Lua, Neil Armstrong.

A figura histórica, além de estar “perdido” também, faz parte de um museu que ninguém frequenta.

 

Tom Gauld ao retratar a figura do Guarda Lunar nos faz lembrar que vivemos num mundo que somos guiados e manipulados a fantasiar sobre uma vida cheia de sonhos, realizações e ambições mas, na prática, exercemos funções sem propósito, presos numa rotina desgastante e, no final, começamos a questionar sobre a importância da vida que temos/tivemos.

 

Fica aqui uma parte do famoso poema do Fernando Pessoa: “Vale a pena? Tudo...”, o restante deixo vocês completarem após ler Tom Gauld.

 

P.S. Como grande otimista que sou, pelo menos, o final da história é permeado por um fio de esperança... esboçamos uma pálida risada para quem sabe um recomeço e um redirecionamento na vida de dois seres humanos.

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